O DESPOTISMO ESCLARECIDO NO REINO DO DENDʹ

O DESPOTISMO ESCLARECIDO NO REINO DO DENDʹ

Texto e ilustração por Marcos Barreto²

CAPÍTULO I – O Reizinho Antonico e a revolta no Reino do Dendê

Em certa época, no já distante século XXI, havia uma cidade que sofria a tirania de um Reizinho, no seu Reino do Dendê. O Reizinho tinha por nome de batismo Antonico, o Contador de Mentiras, neto e herdeiro de um dos maiores déspotas já conhecidos abaixo da linha do Equador. Então, por conta da ascendência de família e árvore genealógica, também seria chamado por seus amigos de ACM Neto (aqui nenhuma relação com o homônimo que também aterroriza a Soterópolis Baianis). Aqueles que não são amigos do Reizinho usavam alcunhas impronunciáveis em tempos de censura…
O Reizinho Antonico era um déspota escancarado e dividiu as terras do Dendê em ducados e condados para seus protegidos.

Aqui, contaremos parte da história do Ducado do Sítio para Manutenção do Escravismo Dirigido – também chamado de SMED pelo Reizinho, que gostava de nomes exóticos –, presenteado à estrangeira, amiga del rey, Palomita, a Imodesta, após o antigo duque Guilhermino, O Belecito, ser agraciado com a criação de um super ducado, mas isto é outra história. Basta saber que, para ser duque, era necessário ser amigo do rei ou dos seus protegidos.

O ducado de SMED era grande e tinha muitas terras, que se estendiam de Itapuã a Tubarão, passava por Cajacity, e recebia bilhões em Licuri, a moeda local, em recursos para desenvolver programas para controlar o povo com suas senzalas modernas. Então, para trazer a galera em rédea curta, a SMED foi desmembrada em 10 condados chamados de GREGrupamento de Repressão aos Escravos – e deu título de conde a cada um dos seus gerentes. A Duquesa Palomita, para cuidar das terras a que teria direito, precisaria descobrir o que fariam os condes e condessas. Assim, foi consultar o oráculo “Doctor Google”:

– Oh Doctor Google, sábio do Reino do Dendê, o que fazem os condes e condessas das GREs?

– Os condes das GREs assessoram o rei, seus duques e capitães, num monte de assuntos. Do recolhimento de impostos, castigos aos rebeldes, indicação para corte de salários, assim como colaboram nos bate-bocas de Facebook e Whatsapp (grandes praças onde todos tem voz – ainda que idiotizada ou vigiada), plantando boatos e ameaças terroristas.

E o Doctor continua:

– O conde é tão importante no dia-a-dia dos reinos que tem até um substituto para suas ausências: o visconde das escolas! (aquelas senzalas modernas onde escravos letrados são acorrentados e obrigados a ensinar aos filhos de outros escravos, aquilo que o Reizinho e os traidores do povo querem, pois entre os mais pobres muitos sequer sabiam que eram escravos).

O Reizinho sabia imitar “Jânio, o Pintor de Quadros” em estratégia de marketing: realizava festas para o povo desempregado e com fome se divertir ao som do arrocha (sua especialidade quando se falava de salários). Pintava o diabo, inaugurava obras que não construiu, e tinha uma Gomex no cabelo que nem o vento da Boca do Rio assanhava…

Mesmo assim, um núcleo de insurgentes foi formado por Articuladores Pragmáticos pela Libertação e contra a Burguesia – APLB, que lutavam por liberdade e dignidade. Faziam reuniões, caminhadas e manifestações com seus membros, denunciando os desmandos do déspota do dendê, os desvios e uso não explicado do Licuri Público, e, principalmente, esclarecendo à população sobre o regime de escravidão que estava instalado no reino.
Aqueles flagrados nas reuniões e manifestações da APLB eram colocados no tronco, açoitados em público com o nome em listas expostas nas praças. Os condes de cada GRE e alguns viscondes iam a cada sala das senzalas de aula, com o chicote nas mãos, para ameaçar os rebeldes. Alguns não tinham escolha, a não ser recuar mediante o regime de medo, perseguição e terror. Mas muitos se agregavam e fortaleciam a trincheiras para a grande revolta, que ora se desenhava…

A insurgente APLB ocupou espaço nas praças e, sobretudo, ganhou força nas senzalas! No mês de julho do distante 2017, o Reizinho Antonico, durante seu desfile, viu o povo gritar:

– O REI ESTÁ NU! E O POVO COM FOME SE REBELA!

Ainda naquele julho, os rebeldes marcaram reunião no “Quilombo dos Bancários” e se prepararam para a grande revolta no Reino no Dendê.

Aguardem o próximo capítulo
[…]

¹ Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência

² Marcos Barreto é Pedagogo, Psicomotricista e Músico. Professor da SMED e diretor da APLB-Sindicato

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