Quem cuida de quem educa?

Quem cuida de quem educa?

Com certa regularidade assistimos, nos diversos meios de comunicação, notícias e reportagens que questionam a instituição escolar e o sistema educacional. E com uma frequência ainda maior, principalmente com o advento das redes sociais, presenciamos toda sorte de questionamentos acerca da atuação e da função social do professor.

Este debate começou a ganhar corpo a partir dos anos de 1980 a partir da expansão educacional ocorrida no Brasil, que promoveu a universalização do ensino fundamental e o crescimento da taxa de matricula do ensino médio. De acordo com Romualdo Oliveira (2007)¹, o crescimento da taxa de matricula do ensino fundamental e médio, neste período, subiu de 40,7% para 76,6% exigindo modificações na gestão e na organização do trabalho escolar.

A partir de então, as expectativas e as cobranças sociais em relação ao trabalho docente foram intensificadas. Espera-se que o professor se envolva com o planejamento, desenvolvimento e criação de estratégias diversificadas de avaliação do processo ensino-aprendizagem e que execute tarefas burocráticas, ocupando-se ainda com problemas disciplinares e administrativos, seja em salas lotadas, seja participando de conselhos de classe e colegiados escolares.

Este conjunto de mudanças trouxe uma consequência direta à saúde do professor, que por muito tempo foi negligenciada. Seja por ser um fenômeno novo e que exige que sejam consideradas as diferentes realidades sociais e de saúde na contemporaneidade, seja pelo necessário enfoque interdisciplinar que o tema exige.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera a docência como uma das mais estressantes profissões da atualidade, com repercussão direta na saúde física e mental do professor, o que, consequentemente, interfere no seu bom desempenho profissional (DIEHL e MARIN, 2016)². Além de serem identificados transtornos mentais como apatia, estresse, desesperança e desânimo, são muito comuns sintomas osteomusculares, possivelmente associados a lesões por esforço repetitivo, elevada carga horária de trabalho ou a condições ergonômicas inadequadas.

Além disso, as demandas atuais exigem desses profissionais uma competência pedagógica, social e emocional cada vez maior para incitar a construção crítica de seus discentes e para que estes aprendam a conviver na sociedade como sujeitos conscientes e participativos. Para isso, é fundamental que os professores estejam física e mentalmente saudáveis.

Diante desse quadro, é urgente que se problematize, com seriedade, a “saúde do professor” para que se criem estratégias de enfrentamento voltadas à prevenção e ao cuidado desses profissionais, evitando, assim, o afastamento ocasional do trabalho e consequente impacto socioeconômico ao Estado, em razão dos dias perdidos, além do declínio da qualidade do ensino.

Edilson Soares – Psicólogo / CRP 03/IP15759

Tarcio Silva – Psicólogo / CRP 03 / IP15785

Anderson Gomes – Fisioterapeuta / Crefito 39.910

Referências:

  1. OLIVEIRA, Romualdo Portela. Da universalização do ensino fundamental ao desafio da qualidade: uma análise histórica. Educação & Sociedade. Campinas, Cedes, v. 28, n.100, p.661-690, out. 2007

  1. DIEHL, Liciane; MARIN, Angela Helena. Adoecimento mental em professores brasileiros: revisão sistemática da literatura. Est. Inter. Psicol.,  Londrina ,  v. 7, n. 2, p. 64-85, dez.  2016 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-64072016000200005&lng=pt&nrm=iso>.

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